Em julho de 2009, fazendo uma oficina de poesia na Flip, em Paraty, comecei a escrever “umas coisas”. No dia anterior, uma forte dor de cabeça, daquelas de pedir um machado, fez com que eu me recolhesse cedo aos meus suntuosos aposentos à beira do rio Perequê-Açu. Essa coisa de mal-estar e dor de cabeça acompanhada de intensa produção poética me fez sentir meio Dr. Jekyll e Mr. Hyde. O que seria o futuro Baba de Moço germinou em Paraty.
O estranho disso tudo é Aymmar Rodriguéz retornar com uns escritos ainda mais debochados e alguns sinceramente nojentos. Ao voltar para Recife, surgiram mais uns três ou quatro poemas. Em outubro de 2009, eu tinha algo que poderia ser transformado num pequeno livro. Mas as perguntas em minha cabeça: se eu até aquele momento nunca quis publicar um livro solo, por que agora esta ideia fixa? E que nome dar a tudo aquilo?
Então junto com Cida Pedrosa fui para Arcoverde, Sertão de Pernambuco, ministrar uma oficina literária. Num dos dias um grupo de Recife fez uma homenagem a Erickson Luna. Na hora, lembrei do poema baba de moço, que em poucas linhas costura a biografia de Aymmar Rodriguéz com o livro Do Moço e do Bêbado, de Luna. Naquele momento, os textos que emergiram em Paraty ganhavam definitivamente um formato, um propósito e um título geral.
Depois veio um certo temor: quem teria coragem de publicar Baba de Moço? E o título não seria ridículo, para um poeta de meia idade como eu? De moço não tenho mais nada, em breve estarei na ala geriátrica. Mas depois lembrei-me que, assim como os personagens (literários, cinematográficos, teatrais) os heterônimos não envelhecem. Aymmar Rodriguéz é um moço, sim. Não estagnou em sua escrita e nas noites frias à beira do Perequê ressurgiu falando de internet, pen drive, prozac e funk. Continuando anárquico, mas antenado aos brilhos e às mazelas da modernidade.